sexta-feira, 27 de julho de 2007

Erros de Pensamento que os Humanos Cometem

Do livro de Thomas E. Kida: Don't Believe Everything You Think: The 6 Basic Mistakes We Make in Thinking.

"Os 6 Erros Básicos que Cometemos ao Pensar (em tradução livre):

Erro 1: Nós preferimos estórias a estatísticas. Mesmo uma estória ruim é preferível em relação a uma boa estatística. Isso não é de espantar. Somos animais sociais, e assim qualquer coisa que pareça nos conectar uns aos outros terá maior impacto do que números frios, impessoais. Isso nos leva a tomar decisões baseadas em uma única estória, que pode não representar tendências predominantes e ao mesmo ignoramos estatísticas que nos informam sobre aquelas tendências.

Erro 2: Nós procuramos sempre confirmar e não gostamos de questionar nossas próprias idéias. Todo mundo quer estar certo, ninguém quer estar errado. Essa pode ser a razão principal por trás do fato de que quando as pessoas olham diante de si uma evidência neutra, ela quase invariavelmente focam naquilo que parece confirmar o que já acreditavam e ao mesmo tempo ignoram o que pode ir contra suas crenças.

Erro 3: Raramente levamos em consideração o papel do acaso e da coincidência na formação de eventos. É possível que uma pessoa selecionada ao acaso não tenha a menor idéia como as improbabilidades, o acaso e a aleatoriedade afetam suas vidas. As pessoas pensam que alguns eventos improváveis são bem prováveis e que outros prováveis são improváveis. Por exemplo: as pessoas se esquecem quão grandes são os números à sua volta - um evento com uma probabilidade de um em milhão de acontecer ocorrerá se houver 1 milhão de tentativas. Em uma cidade grande, com milhões de habitantes, isso significa que vários eventos desses podem ocorrer todo dia.

Erro 4: Nós, de vez em quando, percebemos erroneamente o mundo à nossa volta. Simplesmente não percebemos coisas acontecendo à nossa volta com a precisão que achamos ou que gostaríamos de ter. Vemos coisas que não verdade não estão lá e falhamos em ver coisas que estão. E até pior, nosso nível de confiança naquilo que percebemos não é uma indicação válida de quão certos possamos estar.

Erro 5: Tendemos a simplificar demais nossas idéias. A realidade é muito mais complicada do que pensamos. Na verdade, é mais complicada do que nossa capacidade de nos relacionarmos com ela - toda análise que fazemos sobre o que ocorre à nossa volta elimina automaticamente uma série de fatores. Se não simplificamos, não chegamos a lugar nenhum em nossas análises. Desgraçadamente, com freqüência simplificamos demais e assim deixamos de considerar coisas que deveriam ser levadas em conta.

Erro 6: Nossa memória é com freqüência imprecisa. Para ser justo, isso não é exatamente um erro, uma vez que não podemos fazer nada quanto a memória não ser confiável. O verdadeiro erro está em não atentar para isso, não compreender os caminhos que levam nossa memória a se enganar, e assim falhar em fazer o que pudermos para compensar esse fato."

Vários dos erros apontados pelo autor advém de como a evolução processou nossa capacidade de raciocínio. Outros erros advém do sistema social em que a humanidade floresceu (onde muitas vezes o indivíduo é premiado por pensar errado e punido por pensar corretamente...).

É muito difícil, mas se conseguíssemos sequer nos lembrar de atentar para esses fatos antes de tomarmos decisões, certamente erraríamos muito menos em nossas opções e não seríamos tão vulneráveis a golpes ou enganações.

E claro, essa lista não é exaustiva, mas meramente explificativa. Cometemos comumente vários outros erros de raciocínio e de valoração, mas optei por publicar essa lista por achá-la bastante interessante e verdadeira.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

GOLPE: SAOEX, Previdência, Depósito de Custas

Está se praticando, agora em Goiás, um novo modo do velho conto-do-vigário utilizando o nome da massa falida SAOEX (uma empresa de previdência que quebrou há anos, deixando um débito com muita gente - sendo que muitos ainda têm esperança de ver algum dinheiro). Fui chamado por amigos em quem tentaram dar o golpe, e estudando friamente a situação conseguimos evitar dissabores financeiros maiores, não sem que alguém que preferiu se arriscar, é claro, acabasse amargando algum prejuízo.

O golpe funciona da seguinte maneira:
1. O golpista liga para o telefone de um prejudicado pela quebra da massa falida da SAOEX, dizendo ser advogado ou responsável pelos pagamentos, informando o fim da falência da empresa e comunicando que restou pagamento de uma boa quantia para o prejudicado. O golpista dá um número de processo e de guia para consulta na página do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
2. A vítima (ou seja, o prejudicado) consulta a página do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, onde confirma que o processo é de real, e que a guia corresponde realmente a um depósito feito naquele processo. Nesse ponto, a vítima normalmente já está encantada com a cifra a receber (normalmente algumas boas dezenas de milhares de reais) - e não se dá conta de quê:
a) Ela não aparece como parte do processo em nenhuma das páginas do Tribunal.
b) O número da guia de depósito não apresenta qualquer vínculo com sua pessoa - nem como habilitante nem como vinculado.
c) O processo não se encerrou.
Isso certamente seria suficiente para levantar sérias dúvidas quanto a veracidade da ligação, mas a ambição leva a vítima ao próximo passo...
3. A vítima confirma ao golpista que está ciente do "processo" e de seus supostos "direitos" e passa ao golpista o número de sua conta bancária para receber o depósito dos valores apontados pelo golpista. Nesse ponto o golpista informa que precisa acertar certas "custas judiciais" do processo, mas vai depositar o dinheiro imediatamente, e que a pessoa só vai pagar depois do depósito efetuado, mediante uma transferência bancária ou depósito para conta de um terceiro, que é apresentado como "oficial de justiça" responsável pelas custas. Aqui, normalmente a vítima fica iludida pela idéia de que está absolutamente segura, pois só vai pagar depois que o dinheiro estiver em sua conta, e que portanto, não tem nada a perder, ficando "preparada" psicologicamente para a próxima parte do estratagema.
4. O golpista deposita um envelope de cheque vazio em um terminal de auto-atendimento bancário na conta da vítima, e em seguida entra em contato com a vítima, pedido que ela retire um extrato da conta. Muitas vítimas, desatentas, não notam que o depósito efetuado - que já consta do extrato - figura como bloqueado. Caso a vítime esteja alerta a esse detalhe, o golpista informa que o valor só será liberado após o pagamento das custas. Obviamente nesse ponto isso deixou de ser um golpe complexo e bem elaborado para se tornar quase uma extorsão simples. Qualquer mínimo conhecimento sobre o funcionamento do sistema bancário ou do judiciário aponta para o absurdo da exigência. No entanto, algumas pessoas, com a visão enturvecida pela possibilidade de ganho financeiro rápido e fácil deixam a esperança triunfar sobre a lógica e realizam o tal pagamento das "custas".
5. Ao conferir os envelopes, que estão vazios ou contém cheques falsos, roubados, sustados ou sem fundos, o Banco automaticamente estorna o valor do depósito bloqueado. A vítima amarga então, com o prejuízo das "custas" que depositou em nome de um "laranja" - dinheiro que nunca vai reaver.

A base do golpe está na velha história do "me adianta x para receber x+y".

Apesar de algum refinamento, claro está que a situação que os golpistas propõe é absurda: estão com um dinheiro seu, exigem pagamento de uma pequena quantia que liberação do valor integral. Vai contra a lógica a idéia de que eles não podem descontar o valor dos honorários, custas, ou seja lá o que for e mandar o remanescente - ainda mais por transação bancária normal. Sempre que uma situação se apresentar dessa forma, a certeza de golpe é grande!

Logo, lições que devemos tirar desse golpe:
1. O fato de uma informação estar na Internet não significa que ela é verdadeira, mesmo consultada uma fonte aparentemente fidedigna - ainda mais se estiver incompleta ou for de difícil compreensão (chame um especialista para confirmar se o que um site diz é verdade e tem realação com você).
2. Assuntos da moda levam a criação de golpes da moda. Quando um golpe não "pega" mais em um lugar ele é passado para outra região, onde há fartura de vítimas novas.
3. Quem está na posse de dinheiro realiza desconto e envia o remancescente, e nunca espera receber antecipadamente uma parte para liberar o integral.
4. O dinheiro não nos persegue, e vantangens correndo atrás da gente são um claro sinal de possível encrenca.
5.Esperança é algo ótimo e necessário para viver, mas nunca devemos passar a esperança em cima da razão e racionalidade.
6.Algo que parece bom demais para ser verdade normalmente é.

Caso você se veja numa situação semelhante, não tenha qualquer dúvida: nunca gaste dinheiro com ligações para os falsos advogados e nunca, de modo nenhum, deposite ou transfira qualquer valor para contas indicadas por eles.

Links sobre o golpe: aqui, aqui e aqui.