terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O Paradoxo do Desarmamento

Ao desarmar o cidadão o Estado diminui extremamente sua capacidade de defesa sob o argumento que lhe garantirá uma proteção no mínimo equivalente, supostamente facilitada justamente pela ausência de armamentos no meio social.

Conforme tudo mais no Pacto Social, o cidadão renuncia ao direito de portar armas para se proteger na mesma proporção que confia na capacidade do Estado e suas instituições de honrar seu compromisso de manter a segurança e a paz. Essa é uma situação especialmente sensível no caso do desarmamento porque basta que um indivíduo resolva descumprir o pacto do desarmamento para se colocar em extrema vantagem em relação ao resto da sociedade, que esteja cumprindo a lei, e ter seu potencial criminoso agigantado. Qualquer mínima falha do Estado em fazer valer a obrigatoriedade do desarmamento, nesse caso, é crítica.

Dessa forma, nos deparamos com o lado mais complexo do assunto: se o Estado tivesse efetivamente essa capacidade de garantir o desarmamento geral da população, fiscalizando e punindo o porte de arma, ele não poderia/deveria usar exatamente essa mesma capacidade para combater as situações em que a população armada usasse as armas de forma criminosa?

Ora, se falta capacidade ao Estado de fazer cumprir a lei criminal em geral, certamente lhe faltará essa mesma capacidade de cumprir uma lei de desarmamento geral. Não existe diferença em implementar uma política ou outra na prática.

Em suma: um Estado que seria efetivo em fazer valer uma regra de desarmamento será igualmente efetivo em conter o crime de uma população armada. E as nações onde há percepção que é "preciso" desarmar sua população meramente para manter a ordem são exatamente aquelas em que as instituições não tem meios para fazer valer a própria regra do desarmamento. Triste paradoxo do desarmamento.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O Vazio

Dentro de nós há um vazio. Todo ser humano tem um, que é inerente à própria humanidade e consciência. Uma boa parte do que somos se reflete na forma e na intensidade de como tentamos preencher esse vazio existencial.

A negação do próprio vazio interior é, por si só, uma tentativa de preenchê-lo. Uma pessoa que se força a convencer como "completa e realizada" pode estar na verdade somente alimentando seu vazio com mentiras auto-induzidas, que não servem, de fato, para diminuir o vazio, mas que na verdade o fazem crescer - exigindo que a própria negação se expanda constantemente.

Algumas pessoas tentam encher seu vazio adorando ídolos. Sejam políticos, empresariais, religiosos, esportivos, artísticos, intelectuais ou de qualquer outro tipo, a adoração aos ídolos tem um só fim: desviar a atenção dos adoradores de seus próprios vazios. O conforto alcançado adorando ídolos não implica que o vazio desaparece, obviamente, já que ele meramente fica orbitando outros vazios, de forma mais ou menos estável, até o inevitável colapso do sistema (quando cai um ídolo - muitas vezes apenas para outro ocupar seu lugar: o vazio é implacável).

Certas pessoas almejam o preenchimento do vazio existencial com coisas mundanas e materiais: comida, bebida, drogas, sexo, bens consumíveis, ou puro dinheiro. O vazio, no entanto, é insaciável para esse tipo de oferenda, e quanto mais coisas assim se consagram ao vazio, mais o vazio precisa para esboçar um mínimo de alívio a seu portador. A situação é insustentável por sua própria natureza, mas comum, o que explica a eterna insatisfação (e tristeza) desses indivíduos consigo mesmos.

Então qual seria a forma ideal de alcançar a "completude" e vencer o vazio? Talvez não haja. Talvez a vida seja, afinal de contas, exatamente o interminável desafio de sustentar o vazio existencial sem se atirar nele. Que o equilíbrio, seja, portanto, nosso propósito nessa jornada de aceitar e conviver com o vazio que temos em nós mesmos.