quinta-feira, 21 de maio de 2015

Discurso Formatura UEG/Morrinhos em 13/05/2015

Transcrição do discurso que fiz como Paraninfo dos Formandos da UEG, Câmpus Morrinhos, em 13/05/2015, a quem agradeço muito a honra, especialmente a Turma de Ciências Contábeis que concluiu em 2014, excelentes pessoas que jamais esquecerei.

Em primeiro lugar, boa noite, Senhores Componentes da Mesa Diretiva.
Boa Noite, Formandos.
Boa Noite, demais presentes, que vieram prestigiar esse momento singular e tão especial.
Me sinto muito honrado por poder aqui estar, e agradeço imensamente a homenagem recebida.
Irei, muito brevemente, dirigir-lhes algumas palavras que julgo apropriadas para a ocasião que é a formatura, materializada nessa cerimônia.
O evento em que estamos participando acontece como reconhecimento que, a custa de muita dedicação, empenho, sacrifícios pessoais e trabalho, os acadêmicos aqui presentes demonstraram haver adquirido habilidades, aptidões, qualidades e conhecimento que os qualificam como profissionais de nível superior, seja na condição de bacharéis ou de licenciados.
Sem dúvida é uma vitória que merece ser celebrada. É uma vitória individual para os que alcançaram essa conquista, e cresceram cultural e intelectualmente nesse processo. É uma vitória para a UEG, que cumpriu seu papel, proporcionando a inserção de profissionais da mais alta qualidade no mercado de trabalho, em suas áreas respectivas. E é uma vitória para a sociedade, que passa a dispor dos serviços de alto gabarito a serem prestados por vocês, dentro dos rígidos padrões técnicos e éticos que nortearam toda sua formação.
Essa vitória, obtida tão merecidamente, não significa, no entanto, que as lutas acabaram. De fato, é seguro afirmar que se um desafio foi superado, outros virão. Na verdade, a vida nunca permite que nos acomodemos. Sêneca, há dois mil anos, já dizia que “viver significa lutar”. Os formandos aqui presentes continuarão suas lutas quotidianas, não há dúvida, mas estarão melhor equipados para as lides diárias na condição de portadores de diploma de graduação – o que proporcionará mais vitórias e criará novas oportunidades de crescimento, num ciclo infinito.
A filosofia oriental contém a máxima que nossa tarefa é descobrir o nosso trabalho e, então, com todo o coração, nos dedicarmos a ele. Cada um que está aqui caminha no sentido de cumprir essa missão. Ninguém chega aqui por mero acaso. E se tanto coração já foi dedicado para que atingissem esse ponto, tenho certeza que ainda mais será aplicado no exercício das profissões que escolheram, bem como na continuidade de seus estudos – já que sabemos que os estudos nunca acabam de fato, mas apenas mudam de forma.
Com todo coração, formandos, na qualidade de profissionais em exercício e estudiosos em desenvolvimento, vocês estarão não somente se construindo, mas construindo o mundo através de si mesmos. Aprendemos com Érico Veríssimo que “felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente”. Pois bem, esse papel que se atribui a partir daqui, de construtores efetivos do mundo, lhes garantirá acima de tudo essa certeza, e por decorrência lógica, a felicidade que tanto se almeja.
Apesar de felicidade e sucesso não serem necessariamente sinônimos, há uma incontestável relação de causalidade e retroalimentação entre ambos. A conquista que se obtém aqui é uma prova de que ambos podem e devem ser desfrutados simultaneamente. O brilho nos olhos de cada um nessa noite não só nos enche de orgulho como nos dá a plena certeza que vocês são dignos de toda felicidade e todo sucesso, e que essa experiência nada mais é que apenas o começo de realizações muito maiores.
Encerrando, por mais que seja um cliché caracterizar a graduação universitária como um limite entre o passado e futuro, não posso deixar de lembrar que, se durante todos esses anos de aprendizado o futuro era uma perspectiva, nessa data ele se concretiza integralmente. O amanhã profissional, que outrora parecia distante, é hoje, é agora. Diante da incontestável realidade da passagem do tempo, nós criamos a consciência que só nos perpetuamos pelo legado que deixamos à humanidade. A fronteira que vocês estão cruzando não importa apenas no que estão acrescentando em suas próprias vidas e espólios, mas os transformam em heranças vivas do melhor que nós, que fomos seus docentes, pudemos oferecer ao mundo. E não é por outra razão que peço para que guardem sempre consigo o ensinamento de Leonardo Da Vinci, que disse: “que o teu orgulho e objetivo consistam em pôr no teu trabalho algo que se assemelhe a um milagre”. Por estar aqui agora, posso dizer seguramente que milagres acontecem sim, e vocês são partes fundamentais do meu próprio milagre. Muito obrigado!

Postura Crítica

É preciso ter uma "postura crítica". É preciso ter "pensamento crítico". Desde muito pequenos temos sido doutrinados com essas ideias. Mas, afinal de contas, o que isso quer dizer? Quer dizer várias coisas. Vamos por partes.

Primeiro, ter uma postura crítica quer dizer que não devemos nos calar. Há assuntos delicados, mas nenhum assunto é tão delicado que deva ser proibido. Um erro comum é achar que se "a sabedoria está no silêncio", e logo ser sábio seria ficar calado. Nada mais falso. Devemos optar pelo silêncio quando a opção for dizer uma [provável] bobagem. Quando podemos contribuir para a melhora de qualquer coisa é nossa obrigação moral nos manifestarmos - mesmo que isso traga desconforto.

Segundo, ter uma postura crítica não quer dizer que devemos sair achincalhando irracionalmente tudo e todos. Sempre que formos criticar algo é nosso dever não só (educadamente) apontar os defeitos, mas principalmente propor soluções e melhorias. A diferença do crítico para o cretino é que o segundo acredita que é superior simplesmente por fazer a crítica pela crítica, sem apontar argumentos, sem raciocinar, contemporizar, e sem nenhuma intenção de aconselhar ou promover a melhora do material criticado. Criticar é, acima de tudo, colaborar. Só reclamar é fácil, qualquer mentecapto consegue. Construir, e verdadeiramente criticar construtivamente é uma tarefa para gigantes.

Por último, criticar é se abrir para igualmente receber críticas. Quem está preparado para falar deve estar igualmente preparado para ouvir. Quando fazemos nossa crítica, voluntariamente ou não, mostramos o que realmente somos - e nos tornamos alvos das críticas de outros. Ouvir as críticas com respeito demonstra civilidade, aceitá-las demonstra ponderação, e conseguir superar e crescer com elas demonstra a mais fina forma de inteligência.

Em suma, uma crítica sincera nos vale muito mais que um elogio falso, não importa de que lado estejamos. Se você atingir os objetivos de crescer com as críticas que recebe e fazer os outros crescerem com as críticas que faz, mesmo que fique com o ego temporariamente abalado no momento, está melhorando como pessoa e se capacitando para merecer cada vez mais elogios sinceros - que são os únicos que realmente importam.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Justiça

Zelão era um perpétuo injustiçado. Descobriu sua condição logo em sua infância, na escola. Durante uma prova da Professora Abgail, Zelão notou que seus colegas colavam de forma descarada e até mesmo vergonhosa, sem maiores preocupações, e desse modo resolveu melhorar sua nota mediante rápida e discreta consulta ao seu material estudantil – no que foi flagrado e duramente repreendido, primeiro pela tirânica Professora, depois pela maligna Diretora, e por último, cúmulo da traição, pela própria mãe.

A injustiça perseguiu Zelão além da escola. Já na adolescência, um dia, numa longa fila, percebeu que ali se separavam claramente os perdedores, esperando passivamente sua vez, dos vencedores, aqueles com atitude para passar na frente de todos, pois seu tempo certamente era importante. O garoto percebeu que os perdedores se calavam, tímidos, temerosos, covardes, e isso lhe pareceu fazer todo sentido, porque se não fossem medrosos seriam vencedores – e passariam na frente. Como sabia que obviamente era um vencedor e merecia mais do que ficar com os perdedores, Zelão tomou coragem, saiu de sua posição e passou a frente de todos, se orgulhando do feito. Os perdedores, no entanto, não pareciam tão igualmente orgulhosos com a iniciativa, e como se aquela fosse a gota d’água (que de fato era), explodiram uma tempestade de insultos e ameaças contra ele, o conduzindo ao final da fila sob vaias, gritos de desaprovação e lições de moral, servindo sua humilhação para desestimular o aparecimento de novos vencedores, pelo menos naquela ocasião.

Zelão seria ainda outras vezes vítima da injustiça. Já adulto, no caminho de sua casa para o trabalho, haviam colocado um maldito semáforo, a pretexto de salvar pessoas. Mas parado pelo instrumento de tráfego diariamente, sentia como se seu tempo escorresse para o vácuo, importantes instantes sendo perdidos todos os dias esperando o brilho verde, minutos fundamentais nos quais poderia estar descobrindo a cura para moléstias fatais, determinando o sentido da vida, ou puxando papo com a nova secretária gostosa antes de começar o expediente, o que era mais provável.

Zelão não estava sozinho na sua revolta com o sinal luminoso, e constantemente observava algum colega motorista impunemente vencer a opressão da luz vermelha e resgatar parte do tempo perdido de uma vida. Seguindo o exemplo, decidiu ser esta a hora de agir, e ignorando corajosamente a luminescência rubra, colidiu violentamente com um ônibus, o que lhe causou ferimentos corporais e pesados prejuízos materiais, devidamente cobrados nos termos da legislação.

As injustiças sofridas por ele nunca foram suficientes para apaziguar seu desejo de equidade. Não seria a Professora Abgail, os perdedores da fila, ou um sinal de trânsito que lhe demoveriam de seu firme propósito de um dia conseguir receber a tão ansiada equiparação com aqueles que nunca respondiam cármica, moral ou legalmente.

Um dia conseguiria colar num exame, furar uma fila ou atravessar um sinal vermelho, sem qualquer tipo de castigo, como tantos a sua volta faziam. Quem sabe não poderia ir além? Subornar uma autoridade, apropriar-se de um objeto esquecido, levar um troco passado errado – os outros faziam tantas coisas sem serem aborrecidos... o céu era o limite. O consolo de Zelão era que todos os dias estacionava numa vaga de deficiente, sem nunca ser criticado, mas isso não contava depois do evento com o ônibus.

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Esse é um dos contos da obra Curtos Contos e uma Comprida Confissão, que pode ser adquirida aqui:
Curtos Contos e uma Comprida Confissão

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dia do Trabalho

É comum dizer que o "Trabalho dignifica o Homem", o que não me parece exato, por ser reducionista.

Outros dizem que o "Homem dignifica o Trabalho", o que é um pouco melhor, mas ainda não chegou lá, porque o Trabalho como ideia, não precisa ser dignificado.

Adão G. Xirimbimbi vai além e completa que "O trabalho só dignifica o homem, quando o homem dignifica o trabalho", o que parece lógico.

Eu proponho que O Homem se dignifica com o Trabalho. Provavelmente caberá observar que nem todo "Homem" e nem tudo que se posssa intitular "trabalho" se encaixarão perfeitamente na definição - mas se contém aí a noção que a produção é mais dignificante que o ócio improdutivo.

Todo trabalho lícito e produtivo é importante. Tenha orgulho do que faz. Esse é o real sentido do Dia do Trabalho.